domingo, 17 de outubro de 2021

A vida é feita de escolhas


 

“Morreu de repente”. Sussurravam no velório. Na certidão de óbito estava escrito: “infarto agudo do miocárdio”. Dez anos mais tarde, ao refletir sobre a vida do pai, a filha falou: “morreu foi de tristeza, de solidão”. O coração não aguentou muito tempo, pois não tinha um sentido para viver que gerasse energia e ânimo.

Iniciou a faculdade de música na Universidade Estadual do Ceará, mas teve que abandonar devido às obrigações de pai e empregado. Trabalhou sempre dois expedientes em uma repartição pública no centro da cidade e fazia o trajeto de casa para o trabalho de ônibus.

Em casa, gostava de cuidar das plantas, regava e assobiava cantando para elas. Cozinhava muito bem e aparentemente, não dava sinais de tristeza, pelo contrário, era uma pessoa alegre com um humor incrível. Mas, sua filha o ouvia falar de vez em quando a seguinte frase: “ah, não era essa vida que eu pedi a Deus”. Parecia uma prece, uma súplica.

Casou-se com 35 anos, teve dois filhos, trabalhava para ganhar dinheiro, gostava de comprar futilidades e em casa sua maior companhia era a televisão. Vaidoso como era, comprava roupas, perfumes, sapatos, talvez para preencher um vazio existencial.

Na fase adulta, enterrou o pai, a mãe, alguns irmãos e seu melhor amigo. Antes de morrer, na agonia, suspirou profundamente e proferiu suas últimas palavras: “meu Deus, meu Deus”.

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