domingo, 7 de agosto de 2016

A sacralidade do cotidiano

       
        Sempre gostou das coisas simples. Quando adolescente queria se casar com um homem bom, não precisava ser rico ou muito bonito, mas ter bom homor, ser trabalhador e fiel. Talvez, por isso, nunca almejou a opulência e tinha uma considerável admiração pela modéstia. Seu estilo de vida afirmava que a simplicidade era a mestra da felicidade.
O cheiro do café que vinha da cafeteira lhe motivou a trocar os pires e as xícaras habituais por outras menos usadas. Mudou também o local de pôr os pães e os colocou em uma bandeja florida. Preencheu o açucareiro. Viu que o pote de margarina estava quase no fim e pegou outro na geladeira. 
        O ritual cotidiano aos poucos foi tornando sagrado e o amor lhe dava autonomia para fazer o que quisesse. Colocou também o queijo, a geleia, o leite e o requeijão. A mesa estava posta. Chamou-o. Sentaram-se um na frente do outro. Era um dia lindo. Olhou para ele e sorriu. O sol ainda raiava nas frestas da janela.