“Morreu de repente”. Sussurravam no velório. Na
certidão de óbito estava escrito: “infarto agudo do miocárdio”. Dez anos mais
tarde, ao refletir sobre a vida do pai, a filha falou: “morreu foi de tristeza,
de solidão”. O coração não aguentou muito tempo, pois não tinha um sentido para
viver que gerasse energia e ânimo.
Iniciou a faculdade de música na Universidade
Estadual do Ceará, mas teve que abandonar devido às obrigações de pai e empregado.
Trabalhou sempre dois expedientes em uma repartição pública no centro da cidade
e fazia o trajeto de casa para o trabalho de ônibus.
Em casa, gostava de cuidar das plantas, regava
e assobiava cantando para elas. Cozinhava muito bem e aparentemente, não dava
sinais de tristeza, pelo contrário, era uma pessoa alegre com um humor
incrível. Mas, sua filha o ouvia falar de vez em quando a seguinte frase: “ah,
não era essa vida que eu pedi a Deus”. Parecia uma prece, uma súplica.
Casou-se com 35 anos, teve dois filhos, trabalhava
para ganhar dinheiro, gostava de comprar futilidades e em casa sua maior
companhia era a televisão. Vaidoso como era, comprava roupas, perfumes,
sapatos, talvez para preencher um vazio existencial.
Na fase adulta, enterrou o pai, a mãe, alguns
irmãos e seu melhor amigo. Antes de morrer, na agonia, suspirou profundamente e
proferiu suas últimas palavras: “meu Deus, meu Deus”.